quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Os cara-de-peia

Silvícolas, selvagens



rudimentares,





parecem canga de muares



não são



cafusos, mamelucos,



caboclos,



feitos de



fibras de aniagem



estopa humana



choupana,



roça



seca



cacto



calangos



candangos



mulambos



resistem à estiagem



crescem



no barro com cuspe



sangue



no mangue











Antena de TV em UHF






na ponta um pedaço de bombril






goteira no telhado






nos trapinhos de retalho,






nasce mais um desbatizado,






cuspido na bobeira






ah, estão por toda a parte




à esmo,




chabu de fogo cruzado,




expulsos da placenta de matilha



herança da monarquia



frutos podres da república,



também crescem,



se vingam



matreiros da cilada,



emboscada,




gostam de tecos em nucas,




têm graves problemas com o olho a olho,




transitam em mulas




e outros lombos




no círculo quadrado,





com documentos falsos,




gravatas de cadafalsos,




penduricalhos de espelho de carro velho,




ignorantes, atrasados,




covardes demais




para serem homens-bomba,




preferem











terça-feira, 27 de outubro de 2009

choro-melô do samba

benedita
benedita
presta atenção
tu tá ficando
malvista
malvista
a dobradiça
da tua alma
faz aiai
no requebrar
de salão
teus olhos
de vidraça
se estilhaçam
com a bala perdida
do meu
penar
benedita
benedita
vai devagar
senão
sacode
com o seu decote
a noite
no choramingar ....
.... (freio de mão-boba)....
da sua anca
se manca
benedita
atende o meu
celular...
aiaiai
o que será da benedita
aiaiai
será? benedita!!!

sábado, 24 de outubro de 2009

Fábula do Papaigaio Testamenteiro e a Cã Botequeira

(Os nomes desta Fábula são verdadeiros, mas as histórias os inventam para dar pistas concretas de uma realidade pra lá de cruel com outras personagens, tale quale...)





Subitamente, sem nenhum motivo aparente, lá está a luz vespertina, cheia de mormaço grudento, carregando o meio da tarde no suor do sovaco, tão lentamente que o mais novo e orgulhoso papai do Planeta, o Papaigaio Testamenteiro sacode as belas penas, preguiçosamente, e ensaia um balé de ventilador colibri , direcionando suas garras afiadíssimas ao belo infinito de telas e galhos de árvores. Aproveita e dá uma cagadinha no chão de cimento lá embaixo. As folhas de seu puleiro estão meio encolhidas, encaloradas, murchinhas, aninhando
a bela fêmea e o seu ovinho. Kheo, eis o nome do Papagaio Testamenteiro, imagina que seja o pai.
Seus companheiros de cela-árvore urbana também...
(saga psitacídea continua ...)

Matadouro 21, Humanos: DNA Bovino em essência

Quadrúpede com asas, guelras, penas, escamas, bicos, pelos e chifres: bípede
Chapéu de cobra
cinto de boi
sapatos de jacaré
botões de elefante
calças de vaca
camisas de bicho-da-seda
gravata de peixe
luvas de gorila
estômago de javali
sangue de novilha
cílios de taturana
peito de pato
pescoço de frango
óvulos de galinha
fígado de ganso
tripas de porco
medula de rato
pele de rã
leite de búfala
ossos de titânio
dentes de porcelana
unhas de resina
meias de petróleo
paredes de barro
teto de floresta
fome de lobo
coração de ovelha
instinto de leão
coragem de hiena

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Vivre


vagalumes ao piano vertebral do crespúsculo

apague a sombra


da tua lousa


de lágrimas


acenda o brilho


do teu


umbigo


obscuro


risque em branco


o plano de vôo


de tuas artérias


e bata palmas


pé ante pé


deixe ao teu alcance


o kit fluídico de engraxate


para que possa,


por ventura,


dar lustro


ao teu


coração,


ora se não triste,


risonho,


desconstrua teu castelo encefálico,


se arrisque ao


mais puro esvoaçar


- nu -


de amarguras moribundas


sem pisar


em cacos de vidro


plasmáticos


ainda que


dance


sobre a relva de folículos


cala-te o teu esgar


para que teus furúnculos


imemoriais


de seda pústula


não saltitem


feito pipocas


em microondas


sem os sais ....




terça-feira, 20 de outubro de 2009

marés de Minas Gerais



O tempo molha.
O tempo rega.
O tempo, varal,
castiçal e memória.
O tempo, hortaliças,
Preguiças.
O tempo, beldroegas,
Couve,chicória,ora pro nobis .
O tempo, ainda em tempo,
Em quintal
de serrália,taioba
.

Tempo de ouro,
Louro,
ferro,
asfalto,
bares,
botecos,
sarau,
monumento
cascalho
musical.

É o tempo,
o tempo,
em estado natural,
chia, apita,
range, assovia
recital.
O tempo transborda:
é Minas Gerais
- marés de história,
Secam, molham, cozinham.
De boca em boca
pra fora,
agoam,
afloram
naco
da língua
que fala
o manso
generoso
de riachos,
pedras,
se assanham nas
nadadeiras-traíra,
rebeldia aflita,
- paisagem entrecortada como
zanga doce,
labirintos,
suscintos,
descanga
- artesanais.

Vá ao garimpo.
Vê como se arranca as entranhas
das vertiginosas montanhas,
como a infância de sonhos
dos que eram pequeninos
meninas, meninos.

Vá às pirambeiras,
esculpidas
religiosamente
nas serras, bordadeiras
de coloridos
delicados,
medonhos,
retalhos afiados
em pedras majestosas,
maciças
ariscas;
vértices precisos,
arrematam leito de rios,
macios,
régio , mundano,
vestes indecorosas,
-sustos rarefeitos
Retalham
o cio do tempo.

Vá à cozinha de
cardápio encaracolado, lisinho, redobrado -
moe o suor de temperos,
arrumadinho, embrenha
no colo de mãe pimenteira
- tacho de cobre.
O leite,
o café, queijos,
cheiros
à lenha,
tropeiros,
mineiros.


sentinela da crença



Quando sino da igreja
toca,
revela em som
a oração da piedade
e do perdão.

Ao soar em nós,
pensamos logo em amém,
fala de anjos e fé,
tange para os que veem
range para os que
vão.

partículas de brevità ao salmo 39

asas do cosmo, procura-se

sábado, 17 de outubro de 2009

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

andor em estações


estamos a caminho
a distância se encurta
abre-se o horizonte
que antes era espesso
agora revela-se o indelével
estamos a caminho
ainda que demore
é o apreço do tempo
sem hora
adormeça a mente
liberte o coração
como um fechar de olhos
em segundos
estenda a mão
eis o limiar da ação
em perfeita
percepção

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Opará, sem misericórdia à franciscana, à mercê de sesmarias modernas, filão de votos nada castos


Às vezes, pensamos:

que pena estarmos vivos para

testemunharmos isso!

E quando não há escapatória,

fazemos o bolo oco

da história

aumentar:

estarrecidos.



Ainda nesta condição,

humanos, em plena miséria

de ciência e ética,

valemo-nos de nossos santos

(e os temos em legião)

até mesmo um em questão,

São Francisco,

para o qual

moral e dialética

eram pilares

de pura

misericórdia.

Tinha razão.



À falta de crença,

decência,

socorremo-nos na 'sapiência'

dos muitos (e muitos sem docência)

que trazem, dourados,

na parede,

títulos enquadrados,

seus doutorados, mestrados,

e uma vasta pasta

de mesa,

que atestam

inteligência,

tais

engenheiros, agrônomos,

geólogos, biólogos, físicos,

geógrafos...

(sim, nada santos)

portanto...



Mapeiam, em céu de brigadeiro,

teoricamente,

500 anos,

na memória

do Brasil brasileiro

e, pasmem,

nada foi acrescentado

ao passado navegante

de outro Francisco,

este , outrora,

um exuberante Rio-mar,

pois, muito menos

ao agora,

embora,

os sanguessugas eleitorais

dizem que matará

a fome e a sede

dos miseráveis

sertanejos.


Pelo que vejo,

drenarão a água

já em extensa agonia

por quilômetros

moldados em canais,

margem adentro

o que significa

em dois mais dois

que o Rio-Mar

se foi

não voltará mais.


Um réquiem para o velho Chico

Triste glória para a alegre

corja latifundiária

E também se foi 2007

e a greve de fome

de D.Luiz Cappio, bispo de Barra, BA

Graças ao Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, relator do STF

e ao então advogado-geral José Antonio Dias Toffoli

Lula velho.







quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Papagaio Testamenteiro said:

'Minha Terra não é deste mundo'....

terça-feira, 13 de outubro de 2009

'Beco das Crioulas'

quem conhece
um fundo de quintal
sabe do que estou falando
quando dou nome
a um canto
da casa, bem especial,
no qual
planto
assunto de metro
batuque incorreto
jeito ardido
estandarte bendito
verso maldito
língua de fora
gesto de ir embora
ficando
até
sabe o que é
cafungar
nos pitocos
enquanto a parreira
cresce
nasce a bananeira
esbanja a palmeira
no agrado de mão
criadeira
sai pra lá com bandeira
no verde e amarelo
azul e branco
avança o sinal
requebrando as cadeiras
sem despencar
a prece
é azeitar cacareco
antigo
dar brilho de cera
no rastilho
áspero da pasmaceira
rodando à baiana
com chinelo havaiana
um som
de repeteco
entra e sai
da janela
com vitrola
radiola
MP aos três por quatro
no colo aberto
menu da gota
potpourri
de iguarias regionais
estilos
todos aqueles trecos
que só a cultura de boteco
refinado
traz
na rabeira
poposuda
da nega branquela
meu bem
como sanduiche de mortadela
uma cachaça pro santo
mesmo que na dispensa
geladeira
e na adega
descansem
preciosidades
de estatalar paladares
neeeemmm.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Antipenultimas do Papagaio Testamenteiro

O eu sou eu, eu sou o eu

Para a África, um imenso coração bóia salvavidas feito de mãos

Aos diletos vizinhos


continentais


que enfeitam a dor


camuflando-a na cor


das vestais
cobrem o negro da pele


com o barro


dourado do dia aguado
bezuntam o pichainho
com seiva de vegetais oleosos
perfumam o suor
com o que a terra regorgita
nas entranhas sem olhos
cá entre nós


de oceano para oceano
se não nos soltarmos
ao largo
ungidos e unidos
pela bênção da imensidão
não pelo sangue
de qualquer ser vivo
se não respeitarmos
a nossa amada casa
ainda que feita de casca de árvore
a gente não tem chance
não.
Se querem a nossa mão
segurando a vida
que despenca na vertigem
da dimensão
num último perdão
se deem também a redenção
aqui vai um SOS de irmãos:
estamos de prontidão.
Façam o gesto
do capinzinho
que, de repente,
se transforma no valente
cerradão.



chorinho de vela em chama


não é de hoje

que os castiçais


e pedras


choram suas lágrimas


de parafina


toda vez que acendemos


as velas


em chamas magnas


angelicais

sábado, 10 de outubro de 2009

altorrelevo mg/br





o canto do acordar



vem do pássaro




logo cedo




desce a manhã



beirando a Trindade




com revoar




de maracanãs



no perfil serrano




da cidade






o tempo é enredo



























terça-feira, 6 de outubro de 2009

Niger Africanizada

malte torrado
cana espremida no
agrosseirado
água limpa
e suas purezas
leveduras
garrafa escura
bem tampada
uns usam rapadura
outros mascavo
pegam raizes
matizes
tudo vai no fermentado
viaravira
e desatina
na lambuzeira
de gostar
do sabor
de moer
o amargor adocicado
borrado

as asas negras da lua


a lua anda cheia

de marear

de jogar ondas

na areia

de brincar

na teia

que faz a luz

sombrear

a lua anda cheia

de vestir-se

de sereia

para alisar

o alto mar

a lua anda cheia

de afogar

mágoa

em tabua rasa

a lua anda cheia

e receia

desandar

a lua anda cheia

de luar

a lua anda de lua

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Cada um olha do seu jeito, mas nenhum tem um Rio de Janeiro e o jeito brasileiro

Raças
catimba
ginga
requebrado
remelexo
dengo
malemolengo
balanço
samba
Para quem não conhece o Brasil
não sabe
que terra maravilhosa
é
esse impávido colosso.