sábado, 15 de agosto de 2009

prece ao ventre de barro

salve


amada mãe terra


salve teu seio farto


e verde


teu semi-árido


a caatinga


salve tuas dunas


teu sertão
cactos


coqueirais


bananeiras


pastos e cipós
espinhos


cascatas e cachoeiras


falésias


pirambeiras


chuvas
deserto
areias


pantanal


salve tua bacia volumosa


de rios


teus galhos


tuas flores


tuas pencas de


frutos e grãos
raizes


várzeas


salve teus mares


crespos de cores


tuas milhas atlânticas
pacíficas
teus tsunamis índicos
teus polos


salve tuas serras,


a cordilheira
Salve tua Planície


planaltos


chapadas
espinhaços
arquipélagos
ilhas


que bordam tua superfície
salve teus abismos
musgos
fungos
crateras
vertentes
teus cismos
salve tua seiva
teu mel
teu átomo
tua lava
teu fogo
em ti ajoelhamos
com pneus e motores
em teus ombros
nos apoiamos com garras
e tentáculos de titânio
abraçamos teu corpo
com nosso habitat de vidro
e aço
beijamos sua fronte
materna
com lábios de poliuretano
e abênção pedimos
com lágrimas de crocodilo.
Sugamos teu sangue
pelo umbigo
enquanto vasculhamos
teu útero
cegos e esquizos
de teu abrigo.
A humanidade
perdeu toda a noção do perigo.