quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Natureza ao prato


Respingue chuvas torrenciais


generosamente


salteie com trovões e


acrescente instantaneamente


relâmpagos


vá mexendo e rezando


devagar


concentradamente


enquanto na TV a cabo,


se ainda houver energia suficiente,


fala sozinho um clássico em preto e branco


pulverize com a cantoria dos pingos (sem is)


batendo vigorosamente


como nas calhas,


ainda assim, afinadamente,


tudo na justa medida


cuide para que


ao despejar o vendaval


não desande do ponto


faça-o sem pressa


deixando em chama bem farta


de velas


por tudo quanto é canto


da poderosa panela


deixe sua psique se manifestar


em delírio


ainda falta muito a ajustar


e equilibrar os temperos


no martírio das ervas


pouco sal marinho



que costuma adensar



impiedosamente

no fofo escuro de cada nuvem


e muito vinho tinto


para sua perfeita


descoordenação


enquanto


esquenta seu coração


disparado


desviando sua cabeça do


borbulhar volumoso


triz a triz



de possível sangria


apertando a colher de aves-maria


nas mãos trêmulas.


A receita pode demorar


ou chegar ao ponto


rapidamente


Tudo vai depender


da harmonia dos ingredientes


Salute e amem


Porque , a sobremesa,


será um belo e espantoso


arco iris.