domingo, 1 de janeiro de 2012

Acordei! De novo...

Dia primeiro do ano
de quantos?
Por aqui, 2012
nos brasis
Logo de cara, café
xixis
água
mais café,
mais água
xixis
Um caniço nicótico
entre a varanda e a TV
Quem?
O Papa
Basílica de São Pedro
Roma
Itália
- claro que foi a algoza de meus nonos -
e sua lotação de filiados
crédulos e portentosos
Cheguei na hora da hóstia
ao som de um coral de homens
na platéia
ora, pensais, atéia
mais homens de fraques, smokings
as damas, senhoras e mulheres de preto
outras e outros de si mesmos
Fora os 'pecados'
uma manjedoura abastada
expõe a réplica inerte e ariana de um
 menino Jesus, o pobre, gorduchinho
cabelos acobreados
olhos azuis
sozinho
bracinhos querendo abraçar
perninhas querendo xispar
em berço de enfeites majestosos
castiçais de ouro,
velas brancas
puras
A lente da TV crava o piso do chão
foca o Papa
lá longe
bem apartado
da multidão
Uns sentados
outros de joelhos
A missa, graças, estava no gran finale
Mais graças, ainda,
perdi o sermão
Mas vidrei nos acessórios
tudo em ouro
o anelzão anular direito do Papa
'Papa Tudo', como dizemos aqui às escondidas
e às claras
O trono é isso
para não dizer pior
As hóstias
de boca em boca
de améns
um luxo imensurável
E fui acordando com o café
os olhos
o nariz
o estômago
os intestinos
o coração
nada em mim é mais musical e religioso
que a poesia latrinal

O silêncio, a dor e as labaredas

 
 
 
 
que eu possa
adormecer
acordada
observando
o dia
e a noite