sábado, 9 de maio de 2009

Dragonas-mãe


Ao suspirarmos
alastramos o germe da incupideza;
ao tossirmos,
lançamos no ar
o vírus de indelicadeza.
Ao mirarmos o horizonte,
desvestimos o decote
da natureza.
Mexendo as ancas,
desbancamos a subréptil
dureza.
Nossas lágrimas
derretem o grifo tatuado da
safadeza.

Choramos em labaredas....
Basta piscarmos os cílios,
nuas se tornam as cruezas.
Um gemido gutural
aciona estranhezas da terra.
Mas, com unhas de aço,
poderosas, como argolas,
arranhamos de leve
a carne humana, da qual
jorra toda a estupideza.
Não comprem panelas,
processadores.
perfumes,
flores,
camisolas,
geladeiras,
fogões,
esmaltes,
viagens.
Nem jantares e velas.
Basta seu tropeço
de bípede,
a súbita
noção de toda a sua
pequeneza...

Unge toda nossa
fronte realeza.....






Esmague e triture a sua idéia de gente...

Quero abobrinhas
salsa
cebolinha
quero alface lisa
brócolis
hortelã
erva-cidreira
pimenta brava
de arder,
vermelhas, verdes,
as de ver e as de comer, aliás,
são todas
verdadeiras.
Almeirão,
tomate de montão,
rasteiro, de pé.
Como chuchu.
Louro,
abóbora,
laranja,
limão-cavalo.
Jabuticaba,romã,
mamão,
bananas
em cacho,
espremer,esmagar,
cuspir sementes, como pássaros.
Beber, solver,
como borboletas.
Flores
aos borbotões,
botões,
cajus,
maracujás.
Mangas.
Uvas-vinho.
Abelhas,
centenas, milhares,
milhões, milho.
Plantares.
Fubá.
Mandioca.
Ah, o principal:
ouvir e conversar, nessa língua faminta,
assim.
Capinzal.
Aranhas, bigatos,
minhocas,
lagartas,
lagartos,
calangos.
Espinhos.
Sem-vergonhas.
Assanhaços.
O vento, a brisa, a chuva.
Lá vem o sol.
A salada, o chá, a sopa, o café.
O café, o pão, a nata, o chão
o céu invertido
A bengala, a muleta, a atadura,
o curativo.
A alma, o espírito, o corpo, a dor
a roupa, o desastre:
O óleo, a fritura, a carne em assadura, a dor, o desgosto.
A matança para a fome.
O crime é o bicho pego no laço covarde, traiçoeiro.
Para você, ocupado o 0800 do éter.
Ninguém fala mais no grátis .
Principalmente o céu.
De que céu você pensa vir?
Preste atenção.





por um fio__________________________________


Há ainda,

em algum lugar do planeta
um riacho,
diacho, tem que haver,
onde
a água escorre lentamente,
muito limpa,
transparente,
dá para ver peixinhos
e seus burburinhos
um pouco mais além,
tem também,
um recosto de água
cheio de taboas
ali, mais adiante
o tempo flutua,
escorregando pela margem
levando
cores, luzes e sombras
na imagem
lânguida e distorcida
da paisagem.

Pobres, doces e tristes efêmeros,nós

Não sabemos e nem aprenderemos a ter a finitude como única testemunha de nós mesmos. Pobres, tolos e tristes seres efêmeros que somos, agarrados a outras vidas, soletrando-as diariamente num exercício arrogante de memória existencial para ensinamentos básicos a outros seres mais sábios do que qualquer boçal humano, este em sua sapiência vazia de vida e de morte.Nosso recurso mais absurdo e voraz é imaginar um Zen saltitando junto aos seus amiguinhos num universo bem menos chato e temerário, bem mais bonitinho. Nem os gatos têm mais sete vidas?

Ventos ao Boomerang



Saturday, January 24, 2004 2:16 PM


Olás a todos vocês pós-mortais (argh!...) Agora, ante o portal de 2004, quando já arrancamos nossos membros inferiores de um 2003 sanguinolento, devemos admitir que aquele foi um ano de chegas e bastas, não? Chagas e bestas?Mas, a priori (sorry, mano sir Will) vamos ver se melhori....Hhuum!Por que será que ninguém mais fala mais em apocalipse? Lembro-me de uma geração anterior à minha (nossa, vossa) que dançava do calipso ao chachacha... Ah, era a do Tom, o Jobim de Ipanema. Que só dançava o samba . Alguém já dançou bossa-nova? Quem sabe o rock 'an' roll? E de 1964 a 1980 , alguém dançou? Mudando de assunto, assim como Leda Nagle , gloriosa jornalista em atividade irônica e sutil, que aconselha a todos a não correr atrás do que se quer , mas na frente..., também levei 50 anos para entender o que é a não menos famosa "Era de Aquarius". Segundo os astrólogos, uma era leva em média uns 80 anos para chegar, implantar seus efeitos e dar passagem à outra. Então, a Era citada iniciou-se em 1960 , após a de Peixes, Ronald Reagan, Bush pai, FHC, João Gilberto Sampaio, Sarney, My Lai, presidentes militares do Brasil S/A Ltda. , pós- Fábios Jrs, Chitões, Esporões, big shoes, flags and bandanas , de quebra ainda um pacote vá via J. Quest, e deverá completar-se por volta de 2040...Até lá terei dobrado,amarrado e enfiado na gaveta da cômoda o cabo da boa esperança. Engraçado, porque eu olhava, olhava ,olhava o horizonte e não via nem fumaça da dita cuja ... que ela já estava levantando hábitos de freiras e padres , desvirginando castas postiços; falsos moralistas; profetas de esquina; templos de areia; gênios plagiados;frases-feitas; chavões;porões, bordões; borrões e burrões...Mãaas, k estamus....Um janeiro a mais no percurso, célebre num ano bissexto, quase ao avesso do que passou ( assim espero), dizem que 2004 é tudo em dobro. Se minha memória melhorou ou continua ótima, não me lembro de ter começado um ano , após as chibatadas de outro , com um otimismo razoável e mirando portas abertas. Sem sofrer... as conseqüências (todas as reticências contidas nesta e em outras minhas mensagens- mazelas são em homenagem à Bibi). Voltando ao pós-parto 2004, tenho a leve impressão de que o bal masqué acabou. Está mais do que na hora de mostrarem as caras e fundilhos , acabou o disfarce, o jogo duplo, colocar a mesa para gregos e troianos e sair de fininho. Ninguém mais vai sair de fininho deste ou de qualquer outro século. Nem digo ( ou afirmo) que será o momento do expurgo e, sim, da materialidade. Se é que vocês me entendem, como diz Riviti. Não há mais desculpas para o amadorismo, a ingenuidade, a ignorância, o atraso. A omissão. O "in natura". E não há cadeiras cativas para a bondade. Nem para a imortalidade. Somos apenas pós-mortais, daqueles que enchem as soleiras de drusas, pimentas vermelhas, alhos e sal grosso, habitando o planeta, por via das dúvidas, em cujas soleiras balouçam sinos dos ventos com a mesma desenvoltura de uma carcaça seca e inerte de uma ex-lagartixa. Insistimos no código moral de conduta, herdado de nossos ancestrais, claro que com os devidos esmerilhamentos. E esta bússola está agregada aos nossos valores, como um leme biológico. Na lesma também. Assim espero. Porque estaremos anulando os pós-canibais de plantão, que se alimentam de milhares de seres humanos descartáveis, nascidos após ( e não pós...) as seqüelas da entrega das chaves da porta da frente...., liberando geral a geladeira, o sofá, a Tv e de quebra, internet, "in natura". Se é que vocês me entendem....

Lúcsia