sexta-feira, 24 de julho de 2009

Sem fazer barulho

Queria saber como
acordar seu sono
devagarinho
Queria saber quando
desabotoar seu sonho
de mansinho
Queria saber onde
encontrar
seu coração baixinho
Queria saber por que
você vive de fininho
Queria saber o que
fez você gozar
rapidinho...

Às sextas, rezadeira pra brabeira se soltá...

Semana de sextas-feiras
como são dádivas espreguiçadeiras!
Me converto ao pagão das bobageiras
à esbórnia regada às tranqueiras
como fiéis companheiras
matusquelas, matusaléns,
velhas sombreiras
que sopram as teias
da solidão em minhas olheiras.
Luzes apagadas carinheiras
Faço o solo aceso da cegueira.

Papagaio bico de alicate

Nas ruas, estradas: dirija com responsabilidade. Tenha cuidado.
Respeite o trânsito. Além de coiós como você, há crianças e animais
Você já foi ou é um ou outro
Ou os dois.

Vou aproveitar que ninguém está olhando (nem eu) para ver melhor

Bebo um gole de café orgânico
fuço na gaveta de dobrados
cheiro a palmilha dos calçados
alinho os retratos na parede
dou corda no relógio de '70
leio remetentes das cartas
vasculho os bolsos de calças
folheio páginas de livros
conto as moedas na gaveta
cheiro as roupas no armário
abro a geladeira
experimento a sobra de comida
tomo uma taça de vinho tinto
(chileno)
acendo o cigarro Hilton
jogo as cinzas na pia da cozinha
abraço o travesseiro
leio o salmo assinalado
outra taça de vinho
mais um cigarro
ligo o ventilador de teto
(à la Blade Runner)
acendo o abajur
olho o São Francisco
(de Assis)
assisto Leda Nagle
tiro o notebook do descanso
(Toshiba) pé de boi
penso: vou pedir uma pizza
e se o telefone tocar
atenderei
e direi:
não estou.
E se for você
perguntarei:
onde estou?
Rabiscarei uns anotados de
cabeceira
para lembrar depois
ê vida encaracolada!
apanho o chuvisqueiro com a mão.

Sem resistência e eletrodos

Por alguns 'séculos'
o remédio era
injeção de água na veia
eletrochoque
saco plástico
Eis que ela
se vingou
por todos os comas
que experimentamos
a sangue frio
induzidos, institucionais.
Tentaram nos afogar
na seca.
O que vem à tona?

A notícia ganha vitrine sensorial de lamber também com os olhos


Um dos mais dialéticos dos prazeres

para um jornalista nos seus reais afazeres

é dizer com todas as letras os dizeres

do fato, da notícia, cheios de haveres.

É cumprir determinados deveres

muitas vezes, surreais,

como um sonar instigando reporteres

à imparcialidade dos escreveres.

Entre mil outros tereteteres.

Maior a satisfação nos ateres

é ter na imagem dos veres

algo muito mais nos sensores

da matéria

cheiros, sons, orações, denúncias

tato, reverberando por uma

sala-vitrine que, de fato,

dá à profissão a equação

de desempenhá-la ao mastigar

dos olhares.

(ilustro aqui com mais uma criação de W. Fagiolo:

um projeto para um estúdio de TV em Ribeirão Preto-SP)