sexta-feira, 13 de abril de 2012

Rincões rudimentares da ilusão

Muitos cidadãos urbanos





intoxicados com a correria, trânsito e barulho das grandes cidades





fantasiam a vida simples no interior





Casinha, jardim, sossego





cidadezinhas bucólicas





que ainda acendem o antigo fogão à lenha





crianças brincam nas ruas





vão à pé à escola





o leite é vendido no latão vindo das fazendas





bate à porta





assim como o pão quentinho





na pequena padaria de doces, bolos e tortas artesanais





fresquinhas





Missa aos domingos





praças floridas e verdes





charretes





passeios tranquilos ao luar





cervejas, chopps gelados, petiscos





um point alegre e bem servido





sem brigas, zoeiras, música no tom certo





afinada ao ambiente tranquilo





Sim, tudo isso ainda existe





Mas, engana-se quem imagina um paraíso irrepreensível





Esses mesmos cidadãos, em busca do horizonte vendido,





chegam aos montes e famintos





a esses rincões preservados





- de aparente inocência





com seus carrões





suas crianças mal-criadas





filhos adolescentes cheios de vícios e guloseimas





que mal conhecem a história de seu próprio país





Querem estacionar na porta do restaurante




das lojas




passeiam de carro por ruas estreitas




que não comportam e não suportam




tanto assédio motorizado




Se resolvem usar seus veículos naturais,




bípedes



andam pelo meio da rua



evitando as estreitas calçadas




como se fossem donos do lugar



Buzinam se há um segundo de lentidão



no próprio congestionamento que causam




jogam papéis de balas, sorvetes, pipocas,




no chão




latinhas e garrafas vazias na sarjeta




se incomodam com os cães soltos nas ruas




e que abordam suas mesas de repasto




(aproveitam para abandonar seus animaizinhos de estimação, por não suportá-los quando crescem...)




Chamam o garçom com arrogância





reclamam da camareira onde se hospedam





riem dos casarões antigos





debocham dos museus





das fachadas carcomidas pelo tempo





Querem garagem e estacionamento





polícia nas ruas





internet veloz





ar condicionado





banco 24 h





luxo





e





atendentes de prontidão,





como eram os escravos





Trazem consigo e despejam no paraíso sonhado





drogas





e maus hábitos





Como os colonizadores fizeram





desde então








Cidadezinhas na imaginacão infantil dos metropolitanos








são um degrau abaixo deles








ao mesmo tempo que admiram








desprezam, pois se acham a evolução








Sim, as cidadezinhas lindas








como casa de bonecas e reinos encantados








continuam existindo








de fato








com suas chagas e suas taras








Só que são mais bonitinhas








(Recentemente, em Garanhuns -PE - cidade natal de Lula , homens e mulheres do campo, imaginem, matava-se, comia-se e vendia-se empadas com meros humanos. Me lembro daqueles pobres e ricos portugueses em Fortaleza -CE - assassinados em 2001...)