terça-feira, 20 de abril de 2010

O mel imbatível dos deuses do fel: jiló

Basta ser brasileiro?
Não, tem que ser mineiro.
Agora, por inteiro,
apanhe ou escolha jilós verdes,
comprido ou arredondado,
de preferência o primeiro,
seja educado
- lave-os
corte-os em quatro
do cabo a rabo,
mergulhe-os
com cuidado
em água e sal grosseiro,
mais ou menos,
dez minutos.
Isso amansa o amargor
que é próprio da herbácea,
que tem fama de grudar o fígado
na boca,
e a boca no fígado,
ambos em delicada companhia.
Sem surtos culinários.
Bobagem, aprendizagem,
o que conta é a camaradagem.
Depois da molhagem,
escorra
e leve calmamente à água
até o estágio fervente:
susto
de amolecer
o mais renitente.
Aí, ao dente,
retire do recipiente
e mostre seus dotes
de serpente:
cebola roxa,
laminada religiosamente,
um teco de mel ao aniz,
compadecidamente
biquinho in natura,
sem semente,
limão cravo, dos mais valentes.
Pode ser mais ousado,
quando acrescenta
ao prato
migalhas generosas de salsa fresca,
ao vapor que exala
a iguaria ainda quente.
O acompanhamento
é aquele repente
que surge ao seu gosto
naturalmente.

Brasília e Tiradentes

Se tivéssemos políticos decentes
os cinquenta anos da capital federal
- hoje também e ainda um péssimo exemplo-
seriam celebrados de forma diferente.
Ainda estamos à sombra da forca
dos impostos exorbitantes
Pudéramos comemorar
um outro Brasil
a cada 21 de abril
de sonho inconfidente
Quem sabe em novembro...