sábado, 20 de novembro de 2010

Cabe ao espírito não caber

Um sofá de dois lugares já é muito

uma cama de casal sobra para todo canto

seis taças de vinho se basta uma

conjunto de panelas para uma iguaria

para que?

o lençol

o edredon

o ventilador de teto

uma música apenas repetidas vezes

chuveiro no verão

chocolate para um

arroz integral

é natural
um peixe de soja
uma lasanha de beringela e abobrinha
um parmesão de soja
um strogonoff de soja
um pão de grãos
um café orgânico
um vinho orgânico
uma água de fonte
uma existência orgânica
um cigarro de soja
uma vodca de soja
um tênis orgânico
vasos de soja com flores de maio e orquídea
(orgânicas...)

que florescem especificamente
(leia-se quando querem)

ou não

lá vem o jornal na porta de alguém

notícias pelo rabo de olho

a porta de entrada permanece fechada

segue seu destino incerto o lixo separado

bafora de hálito tedioso o dia
a dose de enfado na noite

faz rugas nos lábios

desodorante, shampoo,perfume
(de mato e capim... de soja, quem sabe)

a sala, o corredor, quartos, varanda

metros quadrados sobre o solo

o carro dorme na rua

não cabe na vida e a vida não cabe

no memorial quotidiano
na garagem

sem memória

ouça os pelos crescerem

a coceira no ouvido

tosse a garganta

pigarro de estórias

que cospe na pia

no ralo

dorme na cama box

TV em HD

a conta também

cadê o bem?

O ombro amigo e solitário

percorre poucas paredes
estradas

O túnel se afunila

Se toca, o telefone é mudo

e cego

Você está surdo

aqui dentro

Lá fora a sua vida

vai embora

sem sair de casa

matar ou morrer ainda não é o faz de conta

nem as balas, nem a faca, nem a miséria são orgânicas

nem de soja