Quando nos mudamos da casa
alugada, desde 1949
para a nova nossa casa
construida tijolo a tijolo
pedra sobre pedra
goteira sobre goteira,
telhas francesas,
no lombo de meu pai
e seu trabalho
em oito anos,
era 1968.
Eu tinha 15 anos de completa ignorância
felicidade e resistência.
Dores., não as do parto,
as da menstruação.
Minha mãe quis um novo fogão
a cara de sua linda cozinha
branca e azul:
lá estava o Palace Hotel, Dako
quatro bocas, forno excelente,
reluzente,
a toda prova e fogo.
Quando ela se foi
ceifada do tempo
para mim
prematuramente,
em 1976, o mesmo fogão
ficou frio, sombrio e apagado até
2009,
quando, num gesto de coragem e
pretensa reconciliação
da lembrança,
o trouxe para minha própria casa.
Sem avarias,
apenas um ou outro consertinho
de praxe.
Quase intacto.
É comovente acender
suas bocas
e cozinhar nele.