quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Dako Palace Hotel em São José do Rio Pardo, SP, BR, Berço de Os Sertões, de Euclides da Cunha...

Quando nos mudamos da casa


alugada, desde 1949


para a nova nossa casa


construida tijolo a tijolo


pedra sobre pedra
goteira sobre goteira,
telhas francesas,


no lombo de meu pai
e seu trabalho
em oito anos,


era 1968.


Eu tinha 15 anos de completa ignorância


felicidade e resistência.


Dores., não as do parto,
as da menstruação.


Minha mãe quis um novo fogão


a cara de sua linda cozinha


branca e azul:


lá estava o Palace Hotel, Dako


quatro bocas, forno excelente,


reluzente,


a toda prova e fogo.


Quando ela se foi


ceifada do tempo


para mim


prematuramente,


em 1976, o mesmo fogão


ficou frio, sombrio e apagado até


2009,


quando, num gesto de coragem e


pretensa reconciliação


da lembrança,


o trouxe para minha própria casa.


Sem avarias,


apenas um ou outro consertinho


de praxe.


Quase intacto.


É comovente acender


suas bocas


e cozinhar nele.



barganhas urbanas aos quintos

acordei com um pensamento
pouco corriqueiro
me deu vontade de cozinhar
feijão preto
louro
linguiça de dumont
refogados
num montinho de alho
amassado ao sal grosso
com sol
cebolas picadinhas
azeite
tirinhas de bacon
e de rúcula
trigueiros
mais uns espremidinhos
de tomates cerejas
pimentas dedodemoça
fatiadinhas
tudo em casa
está bem limpinho
foi dia de faxina
tempo nublado
lá fora o alvoroço
de obras urbanas
incessantes
constroem prédios
a cada cem m2
um filete de jardim
se sobrar
mais decorativo
que funcional
asfalto, calçada
desconstroem a cidade
aqui o mormaço
brilha em meus poros
ainda assim
me debruço sobre o fogão
talvez até seja minha idéia
faminta de compensação
não