domingo, 22 de novembro de 2009

Casa, então, em pé,demonstra que ainda é preciso saber como ficar de pé....

Afinal, como em qualquer história normal
te encontrei
nos apresentamos
até ensaiamos uma dança primitiva
gestual, verbial,
alegórica, em par,
cada qual,
tímida e desconfiada, como é banal
entre seres de primeira viagem
apesar de marinheiras
de tantas águas e mágoas
na voragem existencial.
Fugimos do arrependimento
e de relacionamentos
ao âmbito frugal
animal,
metabólico
do basal
até cairmos exaustas
na página central
e fui de mala e cuia
sem jeito
para sua vida
e você veio
do mesmo jeito para a minha
cerzimos nossos retalhos
como novos agasalhos
finos, com votos de saúde e plenitude
na coragem dos que
nem sonham com uma abordagem
que não tenha algo de celestial.
Tudo que eu precisava era de boasvindas
palavras generosas
acarinhadas
amistosas
palavras e gestos amorosos
que alçam seu próprio vôo
em asas de pássaros
borboletas
frágeis e seguras
que sabem o que levam adiante
tranquilamente
entrei em casa
com centenas de livros
de mão e cabeça
quilos de vestes
dentro e fora de mim
gostos no prato e no copo
sabores do estrear e experimentar
mas, eu só queria ouvir a verbalização
das batidas do coração
amar e amar
e ouvir todos os dias
a musicalidade
da palavra querida
que diz tudo
sem mesmo ser ouvida
errar e não ser punida
acertar e não ser referida
navegar a excelência da vida
Minha casa construida
em pilares de armistício
no bálsamo para feridas
lambidas pelo hálito
não pelo hábito
desguarnecida
se não pelo primordial
aquecida.
Ouvir todo santo dia
querida.
Apenas e somente
o que faz
seguramente
meu cerne e alma
contentes
como um amém
depois que se sabe a oração
completamente.
O resto?
Não me presto a ele,
a não ser com o abraço
de aço
em atitude
correspondida...
Constrói-se, sim,
ao nos construirmos
também, assim.

O Contínuo Ciclo Quadrado do Estertor da Ignorância

(à noite sob a bacia da lua em Tiradentes-MG)
Ao lado, o vizinho se mostra
ao som de um violão
dedilhado num solo matreiro
com a habilidade de um virtuose
exposta
feito fratura que põe
à mostra
suas partituras pessoais
num bordado de harmonias
digitais
incógnito (nem tanto, é o Totonho)
à rua, circulantes sorrateiros
aqueles esmagados
pela letra, verbo e solfejo
- lá eles vomitam seus pés de sucupira
existencial.
deixam marcas de cotovelos
anais
nas carteiras escolares.
A lua num sublime e aterrador anel
levanta em luz
o recorte da serra
grosseiro de nascença
- soberanas
em uma bacia esguia
de imprevisível geometria,
brilhantes no céu.
porte real.
A ignorância mora em toda parte
não apenas no suburbano.
Mora no declínio obtuso
dos arredores,
então, dicto e feito,
domesticados, aliás, civilizados.
Ainda criam galinhas no quintal
e destroçam o pescoço do frango
com a mãos geladas da fome.
Também desmatam florestas
para boi comer capim
e enfeitar espetos,
esposa criar jardim,
moleque dar tibum em piscina,
nene dandar com babá ecológica.
Todos devem cagar sua cota em carbono.
Mas, francamente,
quem se importa com esse
arremedo de gente?
Conjuga-se perfeitamente
a mesa farta de ironias
- iguarias de quem
experimentou o seio
cheio.
E é fatal.
Exercita-se o regurgitar
da soberba
na sarjeta: cão ou laia
vai ter sobremesa...
Um dos dois vai arder
na correnteza de todas
as pobrezas...