Muitos cidadãos urbanos
intoxicados com a correria, trânsito e barulho das grandes cidades
fantasiam a vida simples no interior
Casinha, jardim, sossego
cidadezinhas bucólicas
que ainda acendem o antigo fogão à lenha
crianças brincam nas ruas
vão à pé à escola
o leite é vendido no latão vindo das fazendas
bate à porta
assim como o pão quentinho
na pequena padaria de doces, bolos e tortas artesanais
fresquinhas
Missa aos domingos
praças floridas e verdes
charretes
passeios tranquilos ao luar
cervejas, chopps gelados, petiscos
um point alegre e bem servido
sem brigas, zoeiras, música no tom certo
afinada ao ambiente tranquilo
Sim, tudo isso ainda existe
Mas, engana-se quem imagina um paraíso irrepreensível
Esses mesmos cidadãos, em busca do horizonte vendido,
chegam aos montes e famintos
a esses rincões preservados
- de aparente inocência
com seus carrões
suas crianças mal-criadas
filhos adolescentes cheios de vícios e guloseimas
que mal conhecem a história de seu próprio país
Querem estacionar na porta do restaurante
das lojas
passeiam de carro por ruas estreitas
que não comportam e não suportam
tanto assédio motorizado
Se resolvem usar seus veículos naturais,
bípedes
andam pelo meio da rua
evitando as estreitas calçadas
como se fossem donos do lugar
Buzinam se há um segundo de lentidão
no próprio congestionamento que causam
jogam papéis de balas, sorvetes, pipocas,
no chão
latinhas e garrafas vazias na sarjeta
se incomodam com os cães soltos nas ruas
e que abordam suas mesas de repasto
(aproveitam para abandonar seus animaizinhos de estimação, por não suportá-los quando crescem...)
Chamam o garçom com arrogância
reclamam da camareira onde se hospedam
riem dos casarões antigos
debocham dos museus
das fachadas carcomidas pelo tempo
Querem garagem e estacionamento
polícia nas ruas
internet veloz
ar condicionado
banco 24 h
luxo
e
atendentes de prontidão,
como eram os escravos
Trazem consigo e despejam no paraíso sonhado
drogas
e maus hábitos
Como os colonizadores fizeram
desde então
Cidadezinhas na imaginacão infantil dos metropolitanos
são um degrau abaixo deles
ao mesmo tempo que admiram
desprezam, pois se acham a evolução
Sim, as cidadezinhas lindas
como casa de bonecas e reinos encantados
continuam existindo
de fato
com suas chagas e suas taras
Só que são mais bonitinhas
(Recentemente, em Garanhuns -PE - cidade natal de Lula , homens e mulheres do campo, imaginem, matava-se, comia-se e vendia-se empadas com meros humanos. Me lembro daqueles pobres e ricos portugueses em Fortaleza -CE - assassinados em 2001...)