domingo, 29 de janeiro de 2012

Poetas, estranhos e díspares seres comuns

Logo que nascem









sentem a magia do umbigo









que se esvai com o corte umbelical









Lá se vai o nado sincronizado









Logo que crescem









sentem que o horizonte é a saída







mais presumível







e longínqua











e batem a cara no paredão invisível







vertical









Lá se vai o tubo de ensaio









Logo que pensam















sentem que a consciência é tudo















e se não sabem morrer, ainda,







alguém os deixa em luto















Lá se vai a mínima perspectiva plausível















Logo que amam











sentem que há um outro universo







o paralelo







e resvalam entre um e outros















não ao mesmo tempo















Lá se vai o latu sensu















Poetas, poetas, poetas













a peneira da areia







do ouro em pó















com desmesurado asseio







visceral











o coração percorre artérias







do desleixo cerebral











Lá se vai o pari passu















consumido pelo déjà vu











futuro







já estão, de novo,







na barriga da galactica Mãe







Cósmica e Universal







sem sequer sairem do chão







Ploft







chiii...







estourou a bolsa





















































































































































































Cabelo étnico, encaracolado como a Vida

Cabelo encharcado de anéis

da cor de vinho tinto

traçado na cerda de pincéis

imaginários

entre os dedos faz ninho

pele de azeitona madura

 a tez em desenho crespo

rosto esculpido no crayon

 emoldura 

 o encaracolado

de fios embrionários


a trança da trama

mitocondrial

em chama viva

perfeitamente

natural




















 

À beira de um momentâneo infinito

Assim
me parece o amanhecer em casa
quando a vela acesa
na varanda
logo às cinco horas depertadas
me acolhe ante o jardim
a brisa sopra um catavento
o sino de bambus
folhas da videira americana
A cafeteira vapora o primeiro café do dia
Debaixo das telhas tipo colonial
em cerâmica Candelária
olho nuvens de respeitável calibre
- partículas de água e gelo -
prestes momento a congelar
um pedacinho do tempo
já com nuvens mais leves
e brancas
como pede
o infinito instante breve

sábado, 28 de janeiro de 2012

Cadê o ser inteligente,estudado, diplomado, graduado, especialista

No mundo Terra



há bilhões de habitantes



ainda...



apesar das estatísticas da Ciência e Economia



- em sua capacidade limitada mundial -



confabularem o contrário



No mundo Terra milhões morrerão



a cada ano, vaticinam periodicamente,



vítimas de doenças atrozes e fome



Uns porque não têm Plano de Saúde



Outros porque não têm dinheiro



Uns porque não transam com patrões



Outros porque não se corrompem de graça



Uns porque não se rendem à massiva bobagem da atividade esportiva



Outros porque trabalham de sol a sol e não conseguem vender drogas e enriquecer



Uns porque não se deixam levar pelas propagandas enganosas



Outros porque não estão doentes e não frequentam farmácias



Uns porque gostam de vinho e não de cerveja



Outros porque fumam e bebem há anos e não adoecem



Uns porque acreditam nas balelas dos governos, mas não votam



Outros porque riem delas



Uns porque seguem ao largo



Outros porque preenchem furos vivenciais com crianças



Uns porque criam outras crias



Outros porque cruzam com outros sem crias e não querem crias



Uns porque fingem



Outros porque, além de fingirem, mentem descaradamente



Uns porque acreditam que são inatingíveis



Ou que serão desmascarados



O que se sabe, até agora,



é que você é o grande catalisador dessa História



A matança, a injustiça, a violência



Porque você está aí ruminando o seu pasto de sangue



e flores



Fingindo que faz algo importante



que sabe algo importante



Que ajuda o próximo



que dá o que tem na vida



inventa mil tramóias para se valorizar



chega em casa e fala : nossa que dia!



Tudo da boca pra fora:



o trânsito, a chuva, o cliente, a enchente,



a casa caiu do morro,



o time perdeu,



sequestro relâmpago,



explosão no caixa eletrônico,



demissão coletiva,



crise na Europa,



o avião caiu,



o Tibet não tem Dalai e está na lama,



o rio encheu o barraco à beira dele,



a família é pobre,



é muito imposto,



o prédio desabou,



a herança secou,



o cartão de crédito estourou



o 'mago' da Apple sucumbiu



a Rita Lee aposentou


 
Tudo  passível de qualquer barbaridade
até a enxaqueca

a reunião



O que mais é aterrador:



você imputar-se não só a mediocridade,



mas valer-se da loucura

de uma pós modernidade

doentia


como passe para qualquer impunidade sã....









quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Tem trem, tem trem, tem trem...trem tem trem tem trem tem

Pisca o cílio



o trem passa no trilho



passa no fundilho



da praça



cricri é o grilo



que canta de graça



o menino



ensaia o estribilho



olha o ladrilho



o dia tranquilo



ouve o estalido



do calor



no encardido



do santo andor



moscas e mosquitos



no zunido



do mormaço



- que acorda a traça



sem graça -



o menino



ensaia o estribilho



cricri é o grilo



do trem no trilho



o apito



apita



apita



andarilho



passeia



passeia



cheio de vapor



vem vem



vem



o Maria Fumaça













quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Teu vento me sopra, sopro teu vento

bouquet de macelas
boá de plumas
gás de balão
filó
tule
soufflé
mousse
balelas
mousseline
anglaise
crème de la crème
crêpe suzette
claras em neve
marron glacé
pudim flan
substância translúcida
lingerie
flute
lese
flor dente de leão
flocos de algodão
bicho de pelúcia
pelerine
seda
silicone
gel
poeira de cometa
brilho de estrela
espuma~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~