sábado, 27 de outubro de 2012

E já estamos quase no ano que vem




Sem recomeçar
Sem interferir
Sem reagir
O ponto de parada está lotado
Você pode não perceber
A barra da calça suja de barro
A fuligem nos ombros
um fio de cabelo pendurado
 resto de ano passado
Debruçado na vitrine
Sem recomeçar
Sem interferir
Sem reagir
O guarda chuva amarrotado
 congelador com restos de comida
Muitas nuvens no céu da noite
Mira aquela estrela sem nome
Você pensa saber
o sentido da vida
Pratos e copos sujos sobre a pia
passa o dia, chega a tarde
a conta no banco vazia
e você só quer beber
Sem recomeçar
Sem interferir
Sem reagir
O suor na roupa veste o ontem
A toalha desbotada no gancho do banheiro
toco de vela
a ressaca da sexta
o porre do sábado
o almoço de domingo
fantasia
O carro na revisão
A questão é que muitos nascerão
E muitos voarão
Mas, muitos nascerão para serem ultrapassados
Mesmo que já quase é o ano que vem
O futuro, sabe, parece
 lanterna guardada com pilhas velhas

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

haicai alhures


Alma, dormi
Cá e aqui
acordo ali, acolá

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Por trás das estrelas

Navegam em  pesado silêncio
 sonhos perdidos
amores frustrados
arrependimentos
corações partidos
bilhetes rasgados
ressentimentos
lágrimas escondidas
gritos abafados
verdades mentidas
pensamentos
intimidade ferida
confiança traída
sofrimentos
Por isso
é bom que peguem depressa
esse lixo.



quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O labirinto secreto dos esconderijos descobertos


É feito de todas as línguas mortas
Aquelas que falam pelos cotovelos
Molhadas de chuva
Sem mofo e arejadas
De todas as letras
garrafais
De todas as cores
Que aparentemente nos cegam
Vestidas de sol
E nos fazem ver
Navegam  maltrapilhas
Engarrafadas
enferrujadas
Caladas
Boiando e
Assoviando
sílabas marejantes
Aos cochichos com o vento leste
Que olha a noite
Transpira no zumbido trovejante
das asas da vespa negra
Ao meio dia
Têm o feitio delicado  das pétalas
Lívidas e perfumadas
Ante o carrasco imaginário
Do sentido inevitável
Chorar e rir
Aos remos
Remar o barco
 
 
 

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Ao entediante tédio inspirador

 a tarde lesma,
escorre ao devagar,
sob sua presa     
 
(a um arcanjo humano, literário e recente na Terra...)          

Nem um pio

Se você não disser
eu também não digo
assim  combinamos
um pacto
um juramento
'não vamos quebrar o encanto'
a noite que dorme lá fora
finge estar acordada
feito  TV ligada
diante do sofá vazio
espreita a sala
a lactea brilhante
 silenciosa
na meada cheia
somos o fio