quinta-feira, 29 de julho de 2010

Sem plural

Me sinto sempre desconfortável
ante o sentimento de perda
e o sentimento de posse
Porque eles não têm plural.
Saudade é saudade
e ciúme é ciúme,
não importa a intensidade, a densidade,
a quantidade.
São únicos na desgraceira
na pasmaceira
na maluquice
no plantar bananeiras
São de inigualável
singularidade
Você sente ou não
Pode até escondê-los
camuflá-los
maquiá-los
explicar tim tim por tim tim
Só não pode multiplicá-los
São e pronto
saudade
ciúme
Por favor, não caia no pecado
de acrescentá-los aos esse
(sssssssssssssss)
Descasque-se
despele
escalpe-se
descabele-se
apunhale-se
mas, mantenha-os na grandeza
singular
Já é muito.

Náufragos sem mar


São as tormentas
que já vêm engarrafadas
prontinhas para consumo rápido e rasteiro
nos embriagam
numa overdose de medos
fingimentos fugazes
verdades vorazes
e vice versa
nos mins
distanciamentos
em que a noção de existir não tem noção
existem
Sem rios e mares
de pragas
aos rasos atávicos
sucumbimos
rasgando em seco
vestes de espumas raivosas