quarta-feira, 29 de abril de 2009

Melô - Curitiba (PR) 14/06/006

Moro na periferia
Só vejo cor no farol
Carro, só cheiro a gasolina
O álcool
Sou torto, desigual

Tô sempre ralado
Morro abaixo
Morro acima
Só tenho rango quando o sos patrocina
Sou torto, desigual

Tô nas esquinas, arada total
Cheiro aqui
Um teco lá
Esgoto, sarjeta
Sou torto, desigual

Passo fome, sou rabeira de ônibus
Tô no lombo do metrô
Sou torto, desigual

Não tenho escola
Nem pai, só mãe
Nem tio, nem vó
Nem primo
Sou torto, desigual

Afago de asfalto, abraço de concreto
Um cobertor de chuva, água de sol
Você é cedo
Eu sou tarde demais.

Favos de fel

Às quintas-feiras, depois das 22h,
Entre quartas e sextas,
Invernos e primaveras,
No dia 16,
Mandíbulas em hastes despencam
Dos arvoredos cerradinos, ao avesso.
Dentadas exímias,
Lacerando folhagens verdolengas
À esmo.
Ao fundo,
Entre o frio e o calor das estações,
Línguas em labaredas
Talham a paisagem com cicatrizes noturnas.
Setas de cuspe,
Flechas enxâmicas de insetos pontiagudos.
Chic-choc-chec
Mate!

Luccia d. Troya ®

Maquinista

O trem ainda corre trilhos à noite, por aqui. De carga, de metro, pesado, devagar, sacode o cerrado, apita na madrugada, rasga a periferia. O inverno a céu aberto traz seca e secura. Na natureza tudo se recolhe e se encolhe. À espera, à espreita. Sono e dormência. Preguiça. Preparo. Economia. Mas, tudo é bobagem. Fora a humanidade, tudo é soberano neste planeta. Anda sozinho. Não precisa de ajuda. Não precisa de empurrão, não precisa de cobertor. Tudo está em harmonia. A humanidade não. Está fadada à destruição ou à infelicidade? Devemos entrar e sair de costas? Sangue e suor.Trapista e Abadia. A cor da noite arde às 21 h, como se a poeira entrasse em combustão. Estou em estado de órbita. A minha vida está em aberto. E nunca sei o que estou fazendo. Talvez haja outros como eu, de comum acordo com o desconhecimento.Espalha sementes como passarinhos, só que desconstruindo ingenuidades e amadorismos.

paragem diamantina


Almatroz
Chafurda-se no abismo do medo
Lambuza-se nos pântanos de ectoplasma
Cospe catarros de luz
É vômito azedo de angústia ácida e pus

Almatroz
Trapezista em saltos triplos imortais
Bailarina de helio em vôo-parafuso sideral
Submarino etéreo sem lastro
Um futuro de arrasto, às cambalhotas
Lá vai ele - condena-se à eternidade -
anda nas pontas dos pés
para não acordar a efemeridade.


Luccia d. Troya
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July,july,july



São Pedro

Noite mais fria do ano?
Foi em 1949, quando meus pais casaram-se na Igreja Matriz de São José do Rio Pardo (SP). Desde então, aquele gelo perdurou por todos os dias 29 de junhos, anos a frio, anos a quente...
Noite mais fria do ano?
Aquela talvez tenha sido.
(Se houvesse alguém, teria sido a noite mais quente...)
mais fogos de artifício
Fogueira
Pé de moleque
Quentão
Lampião.


Blue Moon

O halo se expande e se mantém
A lua centraliza e, visíveis,
dois planetas fazem a escolta.
Ela parece menor. É inverno.
Nada igual
Demora a orbitar. Está mais lenta?
Mais preguiçosa ou só nos varre devagar?...
Lânguida e bela, como ninguém
Um leque transparente a 360º