sexta-feira, 23 de abril de 2010

O cavalo, o dragão e o santo

Cuspa tuas ventas em chamas
dragão
enfurecido
saracoteia
encandescido
expele tuas escamas
de lava
enquanto empunho a lança
mortal e certeira
de pau e ferro
sobre o cavalo de mil patas
calo a boca do teu vulcão
com chumaços de algodão
tu me desafias
em qualquer direção
com asas primitivas
espeto tuas costas e ventre
tu serpenteias
teu dorso inquieto
inventa rasteiras
me deixa em perigo
Com meu escudo te rechaço
minha sela repele teu ato audacioso
e
meu cavalo de mil patas
sobre teu formidável aspecto
não entende
refuga
relincheia
aos coices
espalha tuas próprias cinzas sobre ti
deves morrer porque és desconhecido
antigo

Manhãs de neblina

Os dias amanhecem assim,
névoa branca e densa
quase de se pegar,
a serra São José
escapa do olhar

Onde, raios, estão meus raios?

Talvez, na gaveta do meio



acordados a cada lua cheia



quem sabe debaixo da mesa



sob o toque a cada garfo e colher

em colisão

pode ser que os esqueci


ali



na prateleira de sentimentos



ou à beira da cama dos pensamentos
Cadê?
Dentro de algum gibi?
Enrolados no lençol da memória
quem sabe vão pinicar
o sonho ao dormir.
Mas, precisava deles agora
para palitar os dentes
e levar atmos feras
ao meu paladar
Onde estão meus raios, raios?
Aqueles que fazem cócegas
nas axilas da discórdia
afagam os caninos do silêncio
fazem as rezas pipocarem
na ponta da língua coronária.
Hum?
Cadê?
Se amotinaram no córtex ,
com certeza.
Só pode.
Uma trincheira bem armada
para tempos à míngua.