quarta-feira, 15 de abril de 2009

Conversês de Cozinha-Abreato

Idade Média (das personagens): 178 anos
Alho e azeitonas pretas grelhados
sementes de tomates ao caldo de romãs, com riscas de camarão e tirinhas de dedo-de-moça

Primeira Idosa (sem bigode e com o cabelo
lilás) – Se você decifrar o passado, certamente encontrará o futuro.

Idoso II (com barba e costeleta /de porco/ nas mãos): Os cientistas vivem fazendo isso
para justificar sua própria ignorância sobre o desconhecido.

Idosa III (de
bigode – problema hormonal) – Todos eles, para mim, parecem mais leigos do que
estudiosos. Não são eruditos, são? Leigos, talvez. Pianistas ou onanistas,
sabe-se lá...


Primeira Idosa Lilás- Leigos? Isso me parece coisa de primeira
comunhão!...Perdi o confessionário. Entrei na latrina. Era noite, não me lembro,
chovia, não me lembro, por que me lembrei?... (coçou as rugas)

IV Idoso (de
pele acetinada e lábios carnudo, avermelhados, sobrancelhas em lápis da mesma
cor...aparece de chinelos) – Não gosto de religiões. Parece-me infantilidade
mal-resolvida.

Idoso II – Freud tinha razão, então? Ou será Marx. Ou ambos,
sei lá, os dois tinham barba, não?

Idosa III – Gosto de rebuscar o passado,
não de redesenhá-lo como fosse descrição tiradas daquelas folhinhas bucólicas do
jardim-de-infância.

Primeira Idosa (sulferina) – Ou primata?

Idosa III(de pelos ruivos) – Qual a diferença?

V Idoso (chega sem sandálias, pés
muito alvos, de cuecas sob o roupão aberto e desengonçado) – Chiii, que conversa
é essa aqui? Cadê o chá? Tem conhaque? E o cigarro (tossindo...)?

Idosa III
– Quanta pergunta, idiota. Diz que você não é o famoso molóide? O famigerado
verme?
Idoso II – Ou debilocéfalo?

V Idoso – Ah , vão banhar-se na lama!
Vão!...Tudo aqui está é muito velho.

Felinos


Silenciosos, espreitadores, resvalam pela noite atrás de luas novas, mariposas, aleluias, vaga-lumes e estrelas cadentes.
Deslizam pela relva sem a comunhão que se estranha , num cheektocheek à maldição da caça noturna. Lambem patinhas.
Felinas,cativas do cio, furtivas, ativas, sem emitir um som, redesenham sombras à mercê, talvez, de algum cupido vira-lata. Ronronam.
Astutos, instintivos, afiam as garras na luz de seda das manhãs, depois de longa e sussurrante serenata de miaus. Lânguidos.
E brincam entre hibiscos, bicos-de-papagaio, arecas- bambu, sapatinhos-de-judia, barrigas-d’água, patas-de-elefante, moisés-no-berço, debruçando-se no bambu mossô.
Felinos
Preguiçosos caçadores de quartos-minguantes.

Trilhos


Tu tá de novo mirando o penhasco da insatisfação ou só comendo banana com casca?



Ouça o trem
lá vem
sabe-se lá com quem

Na sela
Não durmo sem o arco
e a esticadela
a mão cheia no alvo
em seta
delicada
secreta
apontando direta
e firme
pro coração dela