Apenas um zumbido,
claro, preciso,
que parece mastigar a noite barulhenta,
enquanto a mente
se prepara
para mais uma insônia dormente.
Um som diferente,
espichado, sutil, persistente,
que pousa repentinamente
e, então, silencia.
Porque cala o pensamento.
Ali, ao soslaio da noite,
no amarrotado da cama,
a sensação de alguém lá fora,
estranha. E havia. Um brilho indefinido,
quase desnudo.
E quando, de repente,
tudo fica muito quieto,
o medo parece atear fogo incerto
na vigília seca.
Engatinhando pelo corredor escuro
até a vidraça da cozinha,
o olhar sorrateiro
vê a pequena nave na grama do jardim,
botando ovos violáceos
bem onde dobra o vento.
Então, com a voz sumida,
fingindo que não está,
deixou a gravata de seda italiana
pendurada na maçaneta da porta,
a cashemere inglesa no corrimão da escada,
o recado num bilhete: 'saí '.
(em 17/03/010)