A verdade e a mentira
numa receita antiga
como os deuses e santos
o fizeram
com seus sinais esculpidos
em estranhezas de entranhas
e lá vai para o fogo
grãos de concepções arcaicas
triturados grosseiros de beabás
garatujados de percepção
folheados de imaginação
lá vem de novo o paraíso
respingando no avental primário
e na taça de vinho alquímico
- ingrediente secreto
e demoníaco da vontade
A fome e a panela se somam
vejo o fundo
pespegando as auréolas angelicais de mentiras aceboladas
ao alho santo da lucidez
para afastar aqueles que escurecem a noite
Caldo de memórias para engrossar o desenho dos elementais
pegando jeito e cheiro
dos esconjuros e batismos
a salga
Amarga um pouco a heresia
tem acentuada acidez o leigo
adoça o erudito
raspas incultas saltam
ao borbulheio de idiossincrasias
que harmonizam-se no cozimento
de sombras aprendizes
O arrependimento apimenta
O respeito fermenta
O despreendimento colore
O silêncio desencaroça
A caridade
salpica
luzes.