Moramos em nós a alma que habitamos
aqui e esquecemos
nossa Casa mesmo está no sentir,
a construímos continuamente pedra por pedra
tijolo por tijolo, tábua por tábua
mesmo que seja um cômodo ou dez ou mil
não há espaço para nós o suficiente
assim
afora nós
e novamente a queremos construir
por onde andamos
e ainda não nos satisfaz
queremos mais
às dezenas e às centenas
mais
e
até não podermos mais
porque a vestimos pedra, tijolo, tábua
e o fazemos em carne, a que odiamos,
nos incomoda a carne,
não a compreendemos,
as vísceras grudentas, pegajosas, macilentas
que cheiram a torcemos o nariz
não resiste ao tempo
que nos resiste:
fingimos gostar, admirar,
então
roubamos as flores, as ervas, as especiarias
porque nossa casa concreta inútil as inveja
belo verniz
imitamos uma natureza feliz
a que não possuímos
nos possui
Nossa Casa não pode ser edificada aqui
porque ela está dentro
em todo canto de nós
fora daqui