terça-feira, 30 de março de 2010

visita da inesperada realeza



mademoisele
Butterfly
faz suas incursões
pelo Bosque das Juritis
uma visita
repentina
breve
deixa na porta
o toque
leve
e nobre
de rainha.

em tempos menudos, até o papa revê catecismos


batismo

catecismo

primeira comunhão

desde o dia cristão em que nascemos

com a moleira mole

sem alma crística ou religiosa

seguimos

ou nos fazem seguir

esses caminhos

já vi de tudo

inclusive

a iniciação de meninos

coroinhas

batizados

com a pornografia

in loco

as meninas

órfãs

nos educandários

sádicos

padres e freiras

abatinados

e habituados

à comunhão

da carne.

Ora, o sangue

e o corpo de Cristo

estão entre nós.

Ou não?

Pelo menos,

Rick Martin

assume os pernudos

dos quais gosta

e o Papa?

Perninhas...?

Seu séquito clérigo, segundo consta, adoora...

segunda-feira, 29 de março de 2010

Meu 'BMW" a caminho áereo

Os motores cospem as ventas


as asas de aço


quase hipnotizadas


se eletrizam,


ainda em terra,


saem do transe e
respondem ao ronco
furacão da aeronave
em vôo
estremecendo a fuselagem
Rumo ao itinerário
Ribeirão
lanche
refrigerante
escala
Uberlândia
Belo Horizonte
pausa, conexão
tudo a salvo,
novamente alça-se
aos quatro ventos e nuvens
em direção a
São João del Rei:
boa viagem.















suor mental e físico

hoje, ao acordar
no meio da noite
senti medo
não havia nada
e havia
uma presença
sem estar presente
que o sono
a vigília
desapercebem
e ativam
a armadilha
sonhei?
imaginei?
estava acordada
na penumbra da
lua cheia
tudo apagado
aberto
fechado
escancara
a sombra da luz
no escuro
na cama
- dorme um corredor
atento
ao menor movimento -
ruído de rua
madrugada
esquecí?
dormi...

se vês, finges, se não vês, fazes de conta que olhas

assim, és
ou finges
o quem
andas
em pressa
tens muitos quarteirões
fazes a tua conta
no faz de conta
o como
tu és
a passagem de ida
e voltas
ao teu viveres
o qual
sem os saberes
ainda aprende
e os esconde
em razões
despidas
dos pontos reais de partida
o que vão
à revelia
de um oceano
de passos
sem porquê
a sós
tu te esqueces em companhia
quem nem
sabes
de onde vêm

domingo, 28 de março de 2010

paulistas de casa, dá-lhes


assim
simples assim
de cara
nem preciso dizer que o meu dialeto
completo
se parte em tiras
ao meio de si e de fato
diante de mais um legítimo
Fagiolo (com Schoqui)
sobrinho
na lista dos prediletos
pelo menos para mim
(Diego e Kele na Pizzaria Bella Dora, Jardim Irajá, Ribeirão Preto- SP-BR)

quinta-feira, 25 de março de 2010

meninos da gema às claras em samba rock (ou rock samba?) sambei...

esse pessoal é 'perigoso' demais
armado até a alma
com pandeiro
cavaquinho
rebolo
tan-tan
teclado
banjo
bateria
o grito de guerra na voz
que canta e se municia
de requebros em sons
assim como a rapaziada
nos instrumentos
com samba pesado
sacudindo um rock
enquanto o rock samba
a musicalidade
samba um rock
entendeu?
então, ouça e guarde
os nomes dos
guerreiros Sambô:
daniel san
sudu lisi
ricardo gama
sávio penha
júlio césar
max leandro
zé da paz
(ribeirãopretanos em estado de fusão em profusão)

terça-feira, 23 de março de 2010

nuvens sobre a cidade que me levam de casa em casa



vôo sobre a Pampulha


a bordo do ERJ 145 Passaredo


é manhã de nuvens brancas


as que polvilham um fim de março


e início de outono


asas leves que me levam


de casa para casa


vamos farejando e lambendo


obras históricas e suas curvas


suas cores


suas perspectivas


que abrem horizontes


cada vez mais longinquos


cada vez mais pertos.


Estão lá Niemeyer


Portinari


Burle Marx


Juscelino


São Francisco


Iemanjá


Sobrevôo meu próprio


acaso


percebo que o distanciamento


me aproxima


e vejo mais cada detalhe


ao longe


ao longo e


quanto mais me distancio


mais perto estou


Sobre nuvens


na poltrona C 11


a janela descortina


ninhos etéreos


despojados


lá atrás um aceno


ciao


um alô


tchau


se aproximam


canaviais


telhados


calor


saio do meu quintal tiradentino


do meu astral bhzontino


chego na minha sacada


buritizando


bem cedo


em Ribeirão Preto


de novo


em casa.

quarta-feira, 17 de março de 2010

grávidas de vós

lá vão elas


parecem protótipos


iguais às avós


mães saturadas


redondas


cheias de tudo


inclusive de nós


por que?
ainda despejam seus semelhantes
na terra
por que?


porque apanham


porque imitam


porque não têm o que fazer


porque são meras reprodutoras


porque enganam seus reproduzidos


que concepção!


da decepção


empurram seus umbigos
salientes


calçada e rua


afora
espetam filas de banco, ônibus, restauranre
de quebra carregam o pai
com dimensão de toucinho igual

dialeto do teu murmúrio inquietante

vem do mar africano
teu perfume
de banzo

daqui posso ver o brilho negro dos teus olhos

claros
geográficos
cintilando

na proa da noite

em pleno oceano


em seu horizonte descravizado


ondas sobre ondas


escrevem tuas palavras sem amarras


até a praia


como espuma de sândalo
e lavanda


que a lua nova espia












terça-feira, 16 de março de 2010

O desaguar do Elvas, Tiradentes-MG

Uma pequena localidade
próxima à Tiradentes,
ainda resguarda a simplicidade
distrital
com escola básica
bem frequentada
e assistida
venda
bar
campinho de futebol
emoldurada por
muros de bambu
serra
e tranquilidade
A vizinhança conhecida
que se acanha
de moradores
cresce em familiaridade
Ali está o Rio Elvas
margeando o rural
com pontilhão para Maria Fumaça
margens naturais
No topo
da colina
estradinha de pedras e terra
serpenteia até
a singela igrejinha
Padre Gaspar
do século XVIII
- zela em descanso
crença e fé

segunda-feira, 15 de março de 2010

quintal de cochichos e milongas

à boca pequena
desfia-se um teretetê
entre pardais
beija flores
cabecinhas de fogo
cabecinhas pretas
galinhos da serra
pombinhas
sabiás
tejos
tucanos
cambacicas
sanhaços cinza
andorinhas
curruiras
joão de barro
que semeiam
barulhinhos de filó
atraem borboletas
em conversês
esparramam casquinhas
de aspiste, painço
linhaça, senha
miolinhos de pão
numa musicalidade
que convida
ao pé de ouvido
silenciosamente
a um valioso e irreverente
trololó
afinadamente...

Meno male, ma adesso è troppo presto

Por instantes,
acenam saudações verdejantes: Palmeiras 4, Santos 3

(foto, Gazeta Press/Terra)

domingo, 14 de março de 2010

estómago e mentes libres

Dizem que o Lula cometeu mais um pecado político
quem sou eu para refutar...:


o de desprezar prisioneiros cubanos em greve de fome.


O que dizer de alguém que fala pelos cotovelos


não tem papas na língua presa


come mais que a boca


transforma a embaixada brasileira na casa da mãe joana


doura a pílula quando seu séquito é pego


com a mão na cumbuca,

a boca na botija
e enfia o pé na jaca?
Presos políticos cubanos,
parecem baluartes humanos da resistência à revolução
e à condução da mordaça cultural e individual,
que há décadas
efetivaram no cargo de 'chefia' UM dos seus idealizadores
- maneira delicada de se dizer que se trocou uma ditadura
por outra.
São muitos e tortuosos , excusos, os descaminhos
de ambas as políticas, praticadas e com afinco.
Dá-se abrigo e proteção a um terrorista
chamado Battisti
e a um escorraçado chamado Zelaya.
Ah, os tempos em que até Lula foi um preso político...
Greve de fome? Para que?
E os amigos que ainda acreditavam
e o defendiam? Com apoio, inclusive,
de outros países...
Lá está onde está, trôpego, roliço, mas sólido
A embriaguês do poder dá fôlego
sustenta, alimenta, ilude
e a fome física
passa,
só fica a vontade de comer
e beber, cada vez mais.
Glutões de posse .
Quem é o prisioneiro nesta história?...

PS..iu (O presidente Obama também deu uma entortada na gulosidade, fino só por fora, engraxou o colesterol pra valer, passou da conta, como o próprio País...Serão protuberâncias inerentes ao cargo?)





sábado, 13 de março de 2010

Para Glauco, simplesmente

Não, não o conheci pessoalmente,
mas o irmão dele, não menos talentoso
e bom, Pelicano
Em Ribeirão Preto, onde ainda reside.
E resiste.
Mas, Glauco, quem não o conhece ?
Quem não ria com suas satíricas personagens?
Agora,
um minuto sem nenhuma graça
um minuto de piada de mau gosto
um minuto de puro mau humor
um minuto sem tempo
e sem as tirinhas sacais
fulminadas por tirinhos fatais
Lá se foi o traço histriônico
da crítica
do deboche
do sarcasmo
num desenho de gibi
que acordava
alertava
numa fração de inteligência
perspicaz
desmantelando a hipocrisia
a mentira
com muito humor
Secou a tinta
quebrou a ponta do lápis
manchou de sangue e luto
a página ilustrada do jornal Folha de São Paulo
Uma eternidade para o raro coração
uma eternidade de razão
uma eternidade para o universo cartum
que ora, certamente, flutuam
em perfeita zombaria
da caricaturinha encarnada
que puxou o próprio gatilho...

quarta-feira, 10 de março de 2010

um sábado de babar

(aqui, apenas um manjar quotidiano em casa)

A começar por qualquer manhã ensolarada

com zumbidos de marimbondos
rajadas de calor e vento
depois,
golinhos
de

café sem açucar;
na tigela 'saudável',

favo de mel,

leite de soja e cereais;
confabula um pãozinho francês amanteigado

- seguem uns cigarrinhos
ao intervalo,
viradores de páginas ancestrais -

lá vem o dia em casa,

tranquilo,
bajula frestas,
cílios, pestanas,


abre janelas e portas


O jardim se completa
com recantos de beijos americanos

camarões amarelos e vermelhos

ora pro nobis

manjericão

washingtonia

tuia jacaré,
permeia bocadinhos de alvenaria com


rabo de gato


azedinha


podocarpo


bromélias tigrezas


pata de elefante


ervas ciganas,
estas têm adereços de incenso
reza,
todos os demais, assim como
a rega,
a grama esmeralda
o chão São Tomé, canteiros com pedras escravas,


ao enfeite de cristais,


cacos de minérios,
recuerdos de beira de estrada,


outras de cristalização magmática


- afina-se a paisagem doméstica
com a música,

o fogão,
um menu caseiro
no qual

tudo promete
num singular plural de sabores


Remexem a vida em réstia de carinho:

vasos de antúrios

raphia

cafezinho ,
plantados em chão
dama da noite,
videira ao rebento,

guerreiros de entrada
São Jorge em espada e lança,
roseira,
complementos acertados
sem estranhezas
de sutilezas bailarinas
Inspiram um cardápio sabatino,
degustado aos vinhos,
rubros,
que despertam agudezas,
e descruzam os 'xis',
porque o amanhã é domingo,
hipoteticamente, desagua na segunda feira,
o rugido da fera semaneira,
num tempo quase outonal:
bezuntamos uns agrados
com molho de pimenta biquinho
morangos e abacaxi
- arroz cateto se amorena com lentilha,
gergelim, ao dobrar olfativo da panela -
segue de estalo algo que combine
com alecrim, cebola, pimenta do reino,
tomate cereja, alho de pouquinho,
um filé suino,
mineirinho,
azeite Borges,
trufa negra,
DVD A-ha,
ou Noel Rosa,
ou Amy Winehouse
- replicam aleatoriamente clics de inspiração
enquanto fumega o caldeirão de possibilidades -
Colheres de fibra de coco,
revolvendo particularidades...
Sem particularidades.




sexta-feira, 5 de março de 2010

a coruja buraqueira faz a noite piar (Athene cunicularia)

ouça
a noite
no piar
da coruja
sortuda
de olhos verdes
lânguidos
com biquinho recurvo
madrugadeira
que faz alarme
em assovio
esticado e estridente
se há perigo
presente
o cerrado
onde habita
essa rapineira
corre o risco
de virar piscina
com churrasqueira
pense nisso...

pesa a pena leve sem a leve pena do pesar

faz a águia seu voo
cada vez mais alto
até ser o mínimo ponto
escuro e veloz
solta ao vento solto

quarta-feira, 3 de março de 2010

o colapso do caos em milésimo de segundos

estamos cara a cara
com a face de muitos séculos
convivemos com suas rugas


seus resmungos


humores em constante oscilação


ainda que façamos


o ricto do sorriso


nada a satisfaz


porque


quando nos devolve o olhar


milenar


nos vê


em máscaras


o perene pincelar grotesco


de nossa hipocrisia


em ação