domingo, 30 de maio de 2010

Uma bola, um gol, milhões de chuteiras verdes e amarelas

Todo brasileiro quer fazer gol,
de qualquer jeito
bonito, feio, torto, direito
gol é gol.
De canela, de trivela, de bico,
bola curva, no morrinho,
resvalando trava adentro,
olímpico,
na paradinha do pênalti,
fora da área,
de goleiro a goleiro,
de bicicleta,
de canhota,
de braço, de mão,
de letra, de sola,
de falta, de escanteio,
de craque, de calcanhar,
de susto.
Gol de placa,
até mesmo aquele sem querer.
Serve um campinho de terra
de grama, de pasto
de quintal,
vale a pelada,
o sábado,
no meio da rua,
na escola,
na favela,
praia,
gol de domingo
improvisado,
na garagem,
na varanda,
na calçada.
Brasileiro é louco por gols.
Ganhar, até mesmo sofrer.
Ahn? Futebol?
Ah, é mesmo...
Quase esqueci...

A magia do despertar tem o despertar da magia

Hoje acordei no frio de outono
junto à serra São José,
com foguetórios e sinos cantando
saudando romeiros e religiosos
à festa da Santíssima, desde às 3 da manhã
Me deu vontade caudalosa de cozinhar
feijão e fazê-lo de modo tão espesso
e suculento
quanto irresistível ao paladar.
Após um amanhecer cheio de neblina
ouvindo saudações ao microfone
reza, convites à população,
abro a casa ao sol,
à luz do quintal verdejante:
pássaros me esperam na renovação das sementes,
na limpeza das águas,
do orvalho gelado sobre folhas e brotos.
Nesta tarefa quotidiana me somam
uma cã botequeira, enrolada na caminha quente
e uma jabuti, entricheirada
debaixo do guarda roupa.
Lá fora, as asas inquietas dos beija flores
ziguezagueiam a quietude da casa.
Ah, é mesmo, o feijão.
Claro, vou cozinhá-lo com notável solidão.
Dessas em que se pensa no despertar
e sua inquestionável amplidão.
Não sou o tamanho da dimensão,
mas sei arrumar meus agrados e meus enfados.
Sem tango, nem samba.
Quanto mais, bolero.
Lembrei-me que acordei
cantando Paulinho da Viola,
Tudo se transformou.
'Violão, até um dia...'
numa passagem ao piano de arrepiar ossos.
'Ah, meu samba...'
(Ontem, acreditem, dormi com Frankie Valli & The Four Seasons,
I've Got You Under My Skin...)
É ou não é?