pensas que teu camisolão branco
não mostra a sombra do teu corpo
manchado do sangue inocente
e que tuas sandálias rústicas
passam desapercebidas
pelas vielas milenares
e não deixam rastros
singulares
como os das serpentes
nas areias.
Por certo, crês que o mal
está do outro lado
da muralha
e esta o torna indefeso,
a mesma que esconde
a tua verdade
de ti mesmo.
Do outro lado
lá está emoldurado
o equívoco
a visão distorcida
se não aquela que sai de dentro
do teu coração
se não o próprio reflexo do teu medo
num espelho caleidoscópico
De fato, acreditas numa escuridão
à espreita do teu sol
quando o primitivo ainda
habita o sombrio
beiral da tua mente
quase infantil
Por que fechas as janelas
da tua morada
se te cobres
da cabeça ao chão
com o véu negro
de quem não concebe
o perdão e
tens nos dedos
o riste incendiário
da vingança?
Cala com tua face de obediência letal
a presença da mãe luz
aquela que pode acender
até o mais ínfimo esconderijo
e
volta as costas
ao estender da outra
mão
Mesmo a noite tem seus olhos
brilhantes
e o dia traz a chama
da constante revelação.
Por que lerdas
em teu espírito a
libertação?