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quarta-feira, 13 de maio de 2009

Fábula do papagaio testamenteiro (início do começo...1)

1951 D.C

Havia no vale desencantado um jovem guerreiro que sonhava com o sucesso e a riqueza.
Mas, como todo jovem, não sabia que para consegui-los era necessário a bravura dos heróis e a sabedoria dos mestres.
Honradez e simplicidade em sua mais pura forma.

O belo jovem guerreiro havia nascido sob duas forças poderosas: a da abastança e a da abstinência.
Preferiu a primeira e rigorosamente seguiu-a à risca.
Seu mundo parecia inesgotável.
Não era.
Queria ser príncipe.
Não era.
Herdara um reinado pequeno e pobre.
Eram umas poucas alpargatas e muito ferro velho.
Sua missão era trabalhar e trabalhar cada vez mais.
Mas, um jovem guerreiro nasce para lutas gloriosas e não para estabular jegues, jumentos e burritos.
Isso era para subalternos.

O jovem guerreiro queria conquistar reinos, atrair fortunas.
Sabia que era preciso prover recursos para continuar sua escalada.
Mas não sabia como provê-los, pois não aprendera a abster-se.

Sabia apenas usar, pegar, usufruir, desfrutar.
Mas, sabia onde buscar o provento
E convenceu seu pequeno reino de que esse era o melhor caminho para o sucesso.
A riqueza viria por si.

E desenvolveu notável dom para camuflar a subtração de bens e valores alheios.

O jovem guerreiro apreciava a vida tranqüila e familiar, mas sem muita convicção.
Sua dedicação era o mundo.
Visitar outros reinados, deleitando-se com outras riquezas, ampliando seu círculo de amigos surrupiadores,
aprendendo com eles a arte de surrupiar montantes aqui e ali.
Honra e sabedoria não eram valores mensuráveis para esses saqueadores de templos e recursos naturais.
Apregoavam que a moral não trazia alimento à mesa, muito menos conforto e poder.
Repetiam ditatorialmente: “A moral é coisa de boiola, fracos, mulheres, indígenas, negros, pardos, cafuzos , mamelucos e sóbrios.’
Lema da bandeira da bandalheira: ‘todo mundo é subornável até que alguém prove o contrário e morra envenenado!!!!’

Reunia-se com os saqueadores e lambia suas feridas para ficar com as migalhas das riquezas a cada investida do bando.
E desenvolveu notável dom para burlar o sacrifício e a dura realidade.
Iludia-os como um mágico perante platéia ingênua. Muita teoria de reinos ideais.
Iludia-se com tanta naturalidade que seu reinado parecia real.
Seu dom parecia verdadeiro.

2006 D.C

Mas, plebeu, o jovem guerreiro envelheceu. O custo estava mais do que podia suportar.
E o povo de seu reino empobreceu.
Não sabia prover-se, pois a riqueza, segundo o antigo guerreiro, viria por si.
Não veio.
Mirando o infinito e vislumbrando um horizonte magérrimo, imediatamente percebeu que só haveria uma saída para a fome, o desespero e o trabalho: ocupar o derradeiro cargo de bobo na corte do Bufão

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