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sexta-feira, 9 de abril de 2010

poesia transfigurativa pálida

Caiu de quatro minha cara no chão
enquanto meus olhos esburacavam
a macilenta escuridão
da madrugada
que parece pegajosa na TV
lá estava em decúbito dorsal
a pena, uma única pena
de toda a asa frontal
da compaixão
numa fresta lamacenta
malcheirosa
quase negra
imóvel
descendo a ladeira de lixo
decomposta
branca e suja
suja e branca
quase irreconhecível
Era só mudar o canal
- um corpo na sombra
quente e
agasalhado -
frente a frente
tragédia e morte
se agarram ao sôfrego
esponjar do terreno borbulhante
de veneno e gás,
insólitos,
reféns de
um sólido outono
diferente
afeito a trâmites legais
por suas destemperanças
irreverentes,
imagine,
boicotar pretensões existenciais
incluindo moradia, trabalho, alegria,
longevidade
ainda que na bacia de almas
baldias,
mas, se somos seres
anônimos,
portanto invisíveis,
quem nos pode ver?

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