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sexta-feira, 15 de maio de 2009

Via crucis de quem não engatinha..., como meu pai e a lima da pérsia




Parece que tudo está impregnado de preconceitos,

por todos os poros meridianos.

O século XX, infelizmente, não foi solúvel em água

- era o desejo de alguns milhões de terrestres (incluindo-me).

O século XXI, provavelmente, não será tão volátil quanto os mesmos milhões de outros nós

desejam

(excluindo-me).

Algum de vós sabeis se engatinhas?

Lembro-me de outros engatinhando.

Eu mesma não. Não me lembro.
Mora em mim uma nova memória antiga

....É uma rica passagem de quintal de infância ,

na Costa Machado 387,

do primeiro de quatro Zés mais famosos do planeta,

o Fagiolo, que pilotava sua pequena oficina eletromecânica,

como um imenso laboratório de faz-se e conserta-se tudo.

Since 1949.

Para minha existência, um oásis e um universo particulares,

ceifados, como ele o foi.

Numa de suas raras e inesperadas conversas ,

em súbito intervalo para descanso do trabalho com afinco,

Zé Fagiolo sentava-se, numas tardes,

no primeiro degrau de uma pequena escada que fazia o acesso de um corredorzinho com mureta e jardineira

(plantados salsinha, alpiste e hortelã) ,

saindo da cozinha e da sala de estar

para o quintal com chão de tijolos,

pegava uma Lima da Pérsia

descascava-a com a unha manchada de graxa,

partindo do fim para o começo da fruta

e lá ia explicando as boas e nutritivas propriedades:

clareava os dentes, limpava os rins, tonificava o sangue,

sabor de saber que passava de pai para filhos -

cada qual tinha que ter um pezinho da bendita -

mas , não era para engolir o bagaço,

que amargava na boca depois de mastigado.

"Cuspa fora".

Era o jeito do Zé, que , na vida, ao invés de cuspir o

amargo,

engolira-o.
Filho de italianos imigrantes( junção marítima-atlântica de um convés congregando semelhantes de norte e sul ,à êsmo , no início do século XX)

dedilhava otimamente um violão apenas de ouvido:

Por que uma Lima da Pérsia?

... Sei lá .

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