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terça-feira, 11 de maio de 2010

respirem fundo, trinquem os dentes, mordam a língua (de cima)

Todos comigo:
estourem seus pensamentos
aniquilem seus sonhos
esmaguem suas ilusões
retorçam suas mágoas
enterrem suas frustrações
espremam cada célula em direção ao futuro
sequem suas veias
arranquem qualquer esôfago
levem suas espinhas fora de órbita
tranquem suas vísceras
seus intestinos
afunilem a bacia estomacal cheia de matéria decomposta
furem o próprio olho
e estrangulem pés andantes
amordacem seus gritos
amputem seus membros
passem noites e dias em claro
ouvindo porcarias
trabalhem 24 h sem receber um centavo
a não ser tapas, ofensas e pescoções,
sempre na mira da faca, do cano e do tirano
ou calas bocas .
Assim é,
estamos quites.
Vocês sobreviveram ao aborto abortado,
apelaram em falso juizo para a mãe natureza, o mundo, vocês mesmos.
Em detrimento de quem lhes deu vida,
aquela que morreu, foi assassinada, foi estuprada, foi escrava,
foi infeliz,
foi abortada com a sua vida
foi presa,
foi anulada,
foi esquecida,
foi marginalizada,
foi rainha do lar, da cozinha,
da sua latrina, cama e mesa,
do seu estertor,
do seu esplendor,
da sua ganância,
do seu poder,
da sua ignorância.
Elas se fazem de vítimas ou são a síndrome da vítima, sabe, aquele útero íntegro, tomado de susto, assalto, de chofre, em cilada, em êxtase, em pinel,
quem sabe, enche a nossa paciência.
Umas se dizem felizes pelo fardo, como mulas agradecidas.
Depois? Tudo é culpa do mundo.
Do lá fora, do que ela não viu, abdicou de sentir, do que deixou de crescer como pessoa,
como indivíduo, como agente criativo.
Conformou-se compulsoriamente ao ostracismo,
com o boton sublimático emblema 'mãe'.
E o seu pai?
Safou-se pro mundano.
Próprio. Ou até ficou ali, com amargura, olhando para ela, culpando-a pela prisão domiciliar da fera
vomitadora de gametas,
condicionada pela pipeta cristã...
Quando volta, traz o riste do profano:
cometi, mas 'ela é a razão do meu engano'
Outros como você estão aí.
Ou seja, vocês nasceram, mas são o aborto que não deu certo. Não vingou.
Sacou?
E a sociedade humana tem que apertar o gatilho,
sempre que você desanda, entorta, estraga, porque não entende nada.
Quisera que essas barrigas anônimas, a serviço do nada e de todos,sem senso e consenso da maternidade inclusiva, não nos proporcionassem mais este castigo de século de tenebrosa e equívoca vida.

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