
A piedade de um
se equilibra no mesmo fio da lâmina devastadora
da crueldade do outro
Benevolente, a natureza decepa vidas instantaneamente
o outro vai cortando fatias
aos poucos e lentamente
Agora,
ai de ti, Haiti
Antes era a escravidão,
depois,
a trama política lambendo a servidão,
aí veio o furacão,
o tsunami,
a floresta que virou carvão,
e revirou o chão em lama .
Agora, o desastre em pó
derrete teu choro
em cinzas
Teus gritos
se partem em escombros
Teus gemidos
despejam lixo e entulho
sobre
filhos, irmãos, pais, vizinhos, colegas, amigos.
Tua fome
tua miséria
sem estudo
sem diploma
caem como toneladas de pedras
sobre tua própria cabeça
rasgam com voracidade tua geografia
de cima a baixo.
A dor lancinante e insuportável
ecoa pela humanidade:
feito uivos noturnos de viralatas
Ai de ti, Haiti
O mundo ouve o roncar do teu
estomago vazio
abruptamente
Tua boca seca e
teu corpo quebrado em mil partes
estalam feito lenha no fogo
Não há água para linimento
nem para o alimento corriqueiro
A natureza mostra a face crua e nua,
só com um minutinho de contrariedade,
sacudindo-se do desmazelo e
te coloca no teu lugar: r u a.
Ai, Haiti,
tua bocarra de caimão,
espera o socorro
derradeiro.
De mão em mão, passamos o chapéu.
Na verdade, é socorro ao Planeta.
Pobre de ti.
Estavas em último lugar e estás prestes a perder até isso....
(foto veiculada na infernet)